quarta-feira, 2 de maio de 2012

Primeiras Impressões




         Cheguei em São Carlos. Ok. Aquela rodoviária, exatamente igual a todas as outras rodoviárias. Poderia estar tanto em São Carlos, como em Itajubá, não perceberia a diferença. Um nó na garganta, e a preocupação de que o moço que me encontraria lá, não estivesse lá. Ele estava. No caminho até sua casa passei pelo centro da cidade a noite. Achei muito rápido, muitos carros, parecia uma avenida com o centro nas beiradas. Entrando no bairro dele, a paisagem mudou, ruas escuras, com aquelas casas de quintais imensos, bancos de madeira na frente das casas, muitas árvores. Me senti muito mais confortável naquele momento.
         Cheguei no meu quarto, amontoei as malas em um canto, sentei na cama, e vi que tremia. A percepção das mudanças acontecem na medida que mudam, e não da consciência que achamos que tomamos delas. Medo era pouco pro que eu sentia, desamparo explicaria melhor.
         No dia seguinte o trote, a apresentação. Aqueles treze cigarros que fumei compulsivamente na frente do auditório da apresentação, com aqueles que seriam meus colegas de sala, alguns prováveis amigos, alguns que eu não gostaria, outros que eu nem saberia o nome, pelos próximos quatro, quem sabe cinco anos. Foi engraçado as coisas que passaram pela minha cabeça. Todo mundo se olhando, curioso, apavorado, tímido, descolado. Depois o trote... ele vem e avassala com todos os seus receios, não porque te faz sentir segura, mas porque não te dá espaço para ter receio. Fui pintada, simulei que morria tomando tiros de uma metralhadora, outro carregou a pedra filosofal quilômetros, além do pedágio, no sol que eu não sabia, mas só São Carlos tem. O almoço barato e delicioso, aquelas figuras que depois eu nem reconheceria sem a tinta. Voltando desse pedágio me perdi umas três horas pelo bairro, encontrando uma sensação horrível de que não sabia cuidar de mim mesma.
         Assim foi minha primeira semana em São Carlos, permeada por dias áridos e de poucas expectativas, com noites apaixonantes, cheias de descobertas. Dias extensos, que nunca mais se acabavam. Que a cada momento fixavam em mim, uma nova impressão, a noção sem contornos do seria então meu mundo. Aprendi nessa primeira semana a amar e a odiar esse lugar. Amar suas esquinas, e desviar enojada de todas essas burocracias, essas mesquinhezes que rodeiam as instituições. Aqui a necessidade se prova com inúmeros documentos, ou com uma conversa simples com aqueles que já passaram pelo mesmo que você. E o que não me faltou foi esse auxílio, cada dia que passei antes de conseguir minha vaga na moradia, foi em uma casa diferente, em cada casa, senti o acolhimento, a ajuda, daqueles que também precisaram e assim como eu, a encontraram.
         Essas foram as primeiras imagens, que a ferro e fogo, São Carlos desenhou em mim. Esses são os primeiros desenhos que posso rascunhar do que espero um dia entender.

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